Com investimento de mais de R$ 820 milhões, cidade aposta em inclusão social, cultura de paz e inteligência para transformar realidades e registrar quedas históricas nos índices de violência
Enquanto muitas cidades do estado do Rio de Janeiro enfrentam a violência crescente com o aumento de efetivos e armamentos, Niterói trilha um caminho diferente. Desde 2018, a cidade desenvolve o Pacto Niterói Contra a Violência, uma política pública abrangente que une tecnologia, inteligência e, principalmente, cuidado com as pessoas — desde a gestação até a inserção profissional de jovens em áreas marcadas por vulnerabilidade.
São 18 projetos distribuídos em quatro eixos: prevenção; policiamento e justiça; ação territorial integrada; e convivência cidadã. A iniciativa já investiu mais de R$ 820 milhões em ações que promovem a inclusão social, o fortalecimento da cultura de paz e o apoio às famílias. Agora em agosto, a Prefeitura vai iniciar o processo de atualização do programa.
“Escolhemos investir em futuro. Com o Pacto, apostamos em tecnologia, inteligência e projetos sociais para transformar realidades. São ações que acompanham as pessoas ao longo da vida, desde a gestação. Os resultados mostram que políticas públicas humanizadas e eficazes mudam destinos”, afirma o prefeito Rodrigo Neves.
Os números confirmam o sucesso da estratégia. Dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) revelam que, entre 2018 e 2024, os homicídios dolosos caíram 68,8% e os crimes violentos letais intencionais diminuíram 67,8%. Houve queda de 83,3% nos roubos de veículos e de 78,5% nos roubos a transeuntes. Os roubos de carga recuaram 86,7%, e os roubos em coletivos, 91,1%.
Mais do que estatísticas, o impacto do Pacto é visível nas histórias de vidas transformadas.
De pizzaiolo a microempreendedor
Kayo Perrone da Conceição, de 22 anos, é um exemplo. Morador do Morro do Estado, ele estava desempregado quando entrou para o Niterói Jovem EcoSocial, projeto que atende jovens de 16 a 24 anos com formação profissional gratuita em áreas como gastronomia, estética, TI, vendas e saúde pet. Kayo escolheu o curso de pizzaiolo e, hoje, tem seu próprio negócio no Barreto.
“O projeto mudou totalmente a minha vida. Me deu uma profissão, autoestima e amizades que levo até hoje. Antes, eu não sabia o que fazer da vida. Hoje, vivo da minha pizza”, conta.
Cuidado desde o ventre
Outro eixo fundamental do Pacto é o projeto Escola da Família, que aposta na prevenção da violência desde os primeiros momentos da vida. Mais de 630 gestantes já foram atendidas com apoio psicológico, capacitação parental e o incentivo financeiro de R$ 1.000 por meio do Pré-Natal Seguro.
Luciana Vieira, de 28 anos, encontrou no projeto a rede de apoio que precisava após uma gravidez inesperada.
“Me vi sozinha, sem trabalho. Na Policlínica Sérgio Arouca fui acolhida, ouvi histórias como a minha e ganhei força. Aqui encontrei pessoas que realmente se preocupam”, relata.
Estudo com incentivo: Poupança Escola
Com o Poupança Escola, o Pacto também busca garantir que os jovens permaneçam na escola. Estudantes da rede pública em situação de vulnerabilidade social recebem até R$ 2.000 ao longo da trajetória escolar por aprovação nas séries finais do Ensino Fundamental e Médio.
Anna Júlia, de 13 anos, sonha em ser médica ou engenheira. Aluna da Escola Municipal Portugal Neves, ela já foi contemplada. Sua mãe, Soiane Oliveira, está desempregada e comemora o apoio: “Esse valor vai ajudar muito. Mais que dinheiro, é um incentivo para ela continuar estudando e sonhar com um futuro melhor”.
Transformação real e duradoura
Para a coordenadora do Pacto, Graça Rafael, o programa demonstra que segurança pública também se faz com cuidado, educação e oportunidades.
“Esses projetos são instrumentos de transformação. Ao investir em prevenção e inclusão, oferecemos caminhos reais para uma cidade mais justa, segura e humana”, conclui.